Há 16 anos, Ana Dora fechou-se em casa decidida a não voltar à rua. "Os olhares indiscretos e a crescente incapacidade de me aproximar de quem quer que fosse durante adolescência e as vozes das outras crianças durante a escola primária fizeram com que me isolasse ", conta a mulher, agora com 36 anos.
Só há três meses, graças a Arlete Lourenço,
especialista em doenças mentais que passou a acompanhar regularmente Ana
Dora, é que esta ultrapassou o medo e conheceu o Mercado Municipal de
Faro, que fica ao lado da sua casa. A viver sozinha com o pai, Ana Dora
"passava os dias a dormir, não conseguia fazer a higiene nem
alimentar-se sozinha", explica a enfermeira Arlete Lourenço.
Foi
através de quadros que Ana Dora pintava, para acalmar os ataques de
pânico, que a técnica de saúde descodificou os motivos do estado de
tristeza e conseguiu dar-lhe coragem para voltar a sair de casa. "Alguns
tinham retratos de mulheres empaladas e todos correspondiam a momentos
de crise na sua vida", referiu Arlete Lourenço.
A
especialista em doenças mentais acredita que, se o caso de Ana Dora
tivesse sido acompanhado desde criança, nunca teria atingido este ponto.
"A doença mental deve ser detectada precocemente, para prevenir e
impedir que atinja um estado extremo como este", afirma.
Graças
ao acompanhamento da enfermeira, nos últimos três meses, Ana Dora
conseguiu sair de casa quatro vezes. E este ano já quer fazer, na rua,
as compras de Natal.
Correio da Manhã
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