Freddie Mercury português no West End de Londres

Por um sonho, deixou tudo. Vendeu a casa em Lisboa, a mota, deixou a família e os amigos e partiu para Londres. Três anos depois, Ricardo Afonso é o herói de um dos maiores êxitos do West End, o equivalente inglês à Broadway de Nova Iorque. No papel de Galilleo, no musical de tributo aos Queen, o actor e cantor é um Freddie Mercury do futuro e o herói que faz renascer o rock and roll" no palco do Dominion Theatre.Foi ali mesmo, pouco antes de entrar em cena, que nos encontrámos com o primeiro português protagonista de musical em Londres..Na porta do camarim, lê-se o seu nome, a porta abre-se e Ricardo convida-nos a entrar. O orgulho nacional está presente. Mesmo acima do espelho, que, a cada dia, ajuda o actor a preparar-se para o espectáculo, a bandeira nacional não esconde a nacionalidade do novo Freddie Mercury. "Ser português não me dificultou a vida", explica, adiantando que falar inglês nunca foi uma dificuldade. "Eles queriam era alguém que soubesse interpretar bem os temas e mostrei-lhes que o meu sotaque norte-americano era razoável, foi o suficiente".

No palco, essa capacidade de interpretação não deixa dúvidas. De "I want to break free" até "We will rock you", Ricardo passa por todos os clássicos dos Queen sem dificuldade. E o público, que todos os dias enche os 2500 lugares disponíveis, não poupa os aplausos!

Mas nem tudo foi fácil. Chegado a Londres após uma temporada a fazer produções em cruzeiros, Ricardo chegou mesmo a questionar a sua decisão. "Durante meses, enviei centenas de cartas e portfólios, as poucas repostas que recebi foram negativas, o restante foram cartas que nunca foram abertas e DVDs que nunca foram vistos. Cheguei a duvidar da minha decisão e da minha sanidade mental", admite.Mas, de um dia para o outro, a sua sorte viria a mudar. Com a contratação de um novo agente, surgiu a oportunidade de participar num "casting" para o musical "We will rock you". Em disputa, estava o lugar de substituto de Galilleo. "Éramos cerca de 300 candidatos, na altura, havia apenas um lugar à disposição. Estive durante pouco mais de um ano a representar o papel como substituto, mas, na maioria dos espectáculos, fazia parte do coro", conta. Foi em Outubro que assumiu o grande papel. Durante uma mudança de elenco, a produção escolheu Ricardo para protagonista do musical. "Às vezes, nem acredito, tenho que dizer as coisas a mim mesmo para acreditar. Mas a camisola também pesa, é uma grande responsabilidade e, no início, não é fácil darmos o nosso cunho pessoal ao papel", desabafa, enquanto dá uns últimos retoques na maquilhagem.Subindo ao palco no papel de um génio musical perdido num mundo onde o rock morreu, Galilleo tem a missão de libertar a música e devolver ao mundo o rock and roll um dia tocado pelos Queen. Galilleo começa por ser uma personagem tímida, que vai crescendo à medida que o espectáculo se desenrola. Os seus dotes musicais vão também ganhado uma nova dimensão, até que Galilleo termina como o herói que salva o Mundo de uma violenta ditadura.Cá fora, Ricardo é ainda visto como o herói da peça. À saída do teatro, pela escondida porta de serviço, o português é recebido por dezenas de fãs. Fotografias, autógrafos e uma palavra do português é o que procuram os que ali aguardaram pela saída de "Galilleo". Entre eles, um grupo de portugueses que ali chegaram sem saber que o protagonista é um compatriota. "Não me importo nada de dar autógrafos e de tirar fotografias. As pessoas querem conhecer os artistas e é o mínimo que podemos fazer por eles.

Às vezes, lá aparece algum turista português e é sempre bom falar a nossa língua", admite. Ricardo pára, responde a perguntas e assina uma série de brochuras. Depois de algumas fotografias de grupo, despede-se, segue caminho. Mas o descanso do herói termina em breve, pois Galilleo estará de volta já amanhã!